Bel Borba

Perfil do professor

Bel Borba

Desde muito jovem, tinha a convicção de que seria um artista plástico, numa época em que na Bahia ainda não era comum referir-se à arte ou ao esporte como trabalho, ainda que em Salvador já se esboçasse uma luta para formatar como perfil de profissionais em todas as áreas, não só no campo das artes. Naquele tempo o pré-requisito para ser um artista plástico era a vocação para o desenho ou para a pintura, mesmo que pelo mundo afora, no pós-guerra, os, multimeios já estivessem detonando as linguagens e técnicas tradicionais das artes plásticas. Fez a sua primeira exposição individual na Galeria Cañizares, da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, em 1975, aos dezoito anos, com pinturas em spray e assemblagem com sucata de motores. Um sugerindo questões existenciais; o outro, uma suposta crítica da sociedade de consumo. A sustentabilidade da profissão de artista sempre foi um desafio para Bel Borba, como deve ser para todo artista. Em paralelo aos seus ensaios na pintura e no desenho sobre papel, no início da sua carreira experimentou as mais diversas técnicas, explorando uma a uma e buscando um aprendizado espontâneo e livre. Nesse caminho aconteceram retoques de fotografia (que o aproximaram do realismo fotográfico em preto e branco e das artes gráficas), cursos de litogravura, gravura em metal e xilogravura e serigrafia; ilustrações (capas de discos, livros e etc.); cenários para teatro e desenho animado. Depois surgiram as intervenções urbanas com pintura, mosaicos e azulejos pintados com tinta de porcelana até as atuais esculturas nas ruas. Filho de advogados, começou a cursar Direito na Universidade Católica de Salvador em 1976, o que parecia ser uma solução para as prováveis dificuldades na vida de um artista, mas acabou abandonando o curso. Ingressou em Belas Artes em 1978, numa época em que tudo era uma grande novidade, travando contato com artistas da sua geração, o que lhe proporcionou a oportunidade de conversas e discussões sobre artes plásticas, muito importantes para o amadurecimento e a profissionalização do artista. No final dos anos 70 foi premiado nos Salões Nacionais Universitários de Artes Plásticas nos anos 76,77,78,79 e 80. Fez parte da Mostra do Desenho Brasileiro no Paraná, em 1980. Fez parte do grupo e da exposição "Geração Setenta", cujo curador era Reynivaldo Brito, do Museu de Arte da Bahia. Sempre questionou essa referência aos anos setenta, já que o grupo de fato atuou nos anos oitenta, contudo o nome anacrônico se justificava pelo fato de já haver acontecido no Rio uma exposição intitulada “Geração Oitenta”. Seu primeiro mosaico, feito há doze anos, na Chapada do Rio Vermelho, teve uma grande repercussão, com mídia nacional e internacional. Essa repercussão se deve não só à originalidade da iniciativa e da técnica (grafismos em mosaicos), como também à somatória de diversas ações e uma produção voltada para uma cidade, o que aproximava estreitamente o artista do cidadão comum, retroalimentando a produção do artista e assumindo a indissociabilidade da figura do artista de sua cidade e de seu tempo. Começou as intervenções urbanas a partir de meados dos anos 70. Pintou um mural no muro de Berlin, pela liberdade de ir e vir, em meados dos anos 80. Pintou um mural contra o apartheid na Segunda Avenida, em Nova Iorque, em 1987. Realizou diversas exposições coletivas e individuais. Dentre elas, uma homenagem a Pierre Verger no Centro Cultural Correios Salvador e Rio de Janeiro, a exposição “Por favor, não Matem Raul Seixas”, no Museu de Arte Moderna e no Museu da Água em Lisboa. Começou a trabalhar com instalações e esculturas a partir de 1986, sem jamais se distanciar da pintura. Montou uma coleção de murais de mosaico por toda Salvador, fazendo um trabalho de aproximação da sua arte com o grande público das ruas. Na Casa Branca, o mais antigo terreiro de candomblé do Brasil, um sitio histórico tombado, assina o Gradil de 100 metros quadrados e 20 toneladas de aço, ladeado por fonte criada pelo arquiteto Oscar Niemeyer. Durante anos realizou trabalhos sociais com minorias e segmentos desfavorecidos (Instituto dos Cegos, Instituto Pestalozzi, palestras sobre arte, conscientização de cidadania e consciência ecológica com crianças a partir de 5 anos em escolas publicas e particulares). Nos últimos 16 anos, vem trabalhando com pinturas, murais e esculturas para os principais arquitetos da Bahia. Tem obras integrando coleções particulares e acervos de museus. Hoje sua produção se divide entre a escultura, a pintura e os murais, embora o artista nunca tenha se afastado do papel ou das gravuras. Tem uma vida dedicada à carreira e ao trabalho, deixando-os sempre que possível a serviço de causas ou questões que o arrebatem. Defende que o artista chega a uma altura em que tudo o que ele vive e respira é arte. Todo mundo é "artista", todo mundo tem sua arte, todo mundo se diz artista, mas só a arte feita pelos verdadeiros artistas pode ser considerada arte.